quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Baccarat...precisa mais?


Paris, a Cidade Luz, ganhou mais uma jóia para sua coleção: a Maison Baccarat, inaugurada no finalzinho de 2008, obra da criatividade delirante do designer Philippe Starck, que recebeu carta branca para reinventar o conceito de loja. Como o prédio funciona também como museu e sede administrativa da mais ilustre marca francesa de cristais, não é de estranhar que visitantes deslumbrados se perguntem: será que isso é uma loja mesmo? É, sim, e, apesar do clima de sonho, serve a propósitos bem objetivos. A Baccarat mudou de casa como parte da estratégia de reposicionamento no mercado. A idéia é reforçar a imagem de glamour arrebatado, luxo assumido e uma tradição de mais de dois séculos ? mas com fôlego suficiente para se modernizar e surpreender. "A essência de Baccarat, para mim, é o mundo da ilusão através dos jogos ópticos do cristal lapidado. Imaginei, então, um palácio de cristal onde tudo seria possível", diz Starck, provavelmente a maior estrela mundial do design. E assim foi feito. Entra-se nesse mundo da fantasia reluzente por um tapete vermelho que leva a um aquário no qual flutua um lustre aceso. Para contrabalançar a suntuosidade do prédio, antiga residência da proustiana condessa de Noailles, freqüentada pela elite intelectual e artística da primeira metade do século XX, Starck colocou cimento bruto e deixou tijolos aparentes nas paredes. Tudo para que só os cristais brilhem.


O tapete vermelho da entrada ganha pequenas luzes laterais que guiam o visitante por corredores e salões iluminados pelos famosos lustres Baccarat. Na loja, vasos, copos, taças, castiçais e pratos das novas coleções estão dispostos numa mesa de 13 metros, com pés de cristal e tampo de espelho cujo desenho em losangos se reflete no teto. As jóias, como um relógio de 10.900 euros e um colar de diamantes e pérolas do Taiti de 29.300 euros, são expostas em cubos de acrílico sobre pedestais em forma de corpo humano. A sala do museu, onde ficam peças simbólicas produzidas ao longo dos 240 anos da marca, é toda cinza com uma pedra de gelo pintada no teto. Luz só sobre os objetos, todos excepcionais pela beleza e técnica. A Baccarat foi a primeira a fazer cristal colorido e luminárias, em 1827, e vidros de perfume, em 1907. O czar Nicolau II, antes da revolução que varreu a monarquia da Rússia, encomendou vinte lustres de 3,25 metros (um deles exposto), os primeiros no mundo a serem eletrificados. Peças de serviços feitos sob encomenda para o magnata grego Aristóteles Onassis e para o casamento do príncipe Rainier, de Mônaco, com Grace Kelly também podem ser vistas.

A magnificência, no entanto, não é mais a única qualidade que a Baccarat quer representar nestes tempos de concorrência acirrada, clientela pouco fiel e mercado de luxo em crise. O faturamento da empresa caiu 12% em 2002 e continuou em queda no ano passado. Comprada em 1988 pelo conglomerado Société du Louvre, peso pesado da hotelaria mundial, a Baccarat tenta se modernizar, desenvolvendo novos setores, como a joalheria e a relojoaria, e aumentando sua visibilidade. "As marcas de luxo precisam se reinventar o tempo todo. A nova sede dá um novo alento à Baccarat, indicando que, além de representar a arte de viver à la française, é audaciosa e criativa", disse a VEJA o diretor-geral adjunto da marca, Thierry Oriez. Por isso, segundo o diretor, a escolha de Philippe Starck, "designer do belo e do lúdico", que com pitadas de humor deu leveza à pomposa história da marca. Assim, dois vasos feitos para o rei da Etiópia, obras-primas de 1909 de bronze, ouro e cristal, "conversam" com os visitantes logo no topo da primeira escadaria da nova loja: espécie de videoinstalação, cada vaso tem incrustado um rosto feminino tridimensional, que fala. Uma poltrona de cristal de 2,5 metros de altura, "digna de Alice no País das Maravilhas" pela inversão das proporções, de acordo com Starck, e cadeiras que lembram a carruagem de Cinderela completam o Palácio de Cristal versão pós-moderna.